19 agosto 2005 

O outro lado

Ainda sobre a descolonização da Faixa de Gaza, tive o privilégio de assistir a uma excelente reportagem da CNN sobre o outro lado da questão. O ponto de vista dos vizinhos árabes dos colonos de Neve Dekalim, o maior colonato da região. As paredes da casa de um palestiniano estavam cravadas de balas. No interior da pequena habitação onde moravam 13 pessoas haviam túneis para fugir da fúria dos colonos. No final da reportagem o dono da casa deixou um desejo. Que as terras de Neve Dekalim voltem para os seus donos para poderem ser plantadas de oliveiras. É a voz do lado silencioso deste avanço histórico no processo de paz entre israelitas e palestinianos.

Citando o jornalista da CNN: "A paciência dos fracos deitou abaixo a resolução dos fortes".

17 agosto 2005 

A retirada


Termina hoje oficialmente, num tom de revolta já esperado, a colonização israelita da Faixa de Gaza, que já durava há 29 anos. Uma ocupação que durante estas quase três décadas teve a condenação da comunidade internacional, inclusive dos maiores aliados de Telavive, os Estados Unidos.

Uma colonização que começou pouco depois da famigerada guerra dos seis dias, e que tinha como principal objectivo expulsar os palestinianos da terra que foi sua durante dois mil anos. Para as colónias na Faixa de Gaza e Cisjordânia foram enviados judeus refugiados de países de Leste, principalmente da antiga União Soviética. A quem chegava à terra prometida era-lhes oferecida uma casa em território palestiniano, um emprego e escola para os filhos. Isto enquanto os árabes na região eram votados à miséria, aos pontos de controlo e a taxas de desemprego acima dos 80%.

Esta retirada é uma exigência para a continuação do Roteiro para a Paz, e vai entregar a mais pequena região da Autoridade Palestiana ao total domínio dos árabes. Mas de nada vai servir para acalmar os ânimos se não continuar com a retirada dos colonatos da Cisjordânia. Só assim será possível o princípio de dois povos, dois países. E quem sabe, aquilo que há muito parecia impossível. Paz entre israelitas e palestinianos. Isto pelas mãos do mesmo homem responsável por um dos maiores massacres de inocentes, num campo de refugiados em Beirute, o actual primeiro ministro israelita, Ariel Sharon.


16 agosto 2005 

A questão iraniana

Depois de no último post já ter falado na questão do Médio Oriente, surgiu mais uma declaração bombástica do presidente dos Estados Unidos que me vai fazer voltar a falar sobre esta matéria. Em entrevista a uma televisão israelita, George W. Bush disse que uma nova guerra na região pode estar em perspectiva, caso o Irão não suspenda o seu programa nuclear.

A invasão do Iraque criou uma grande instabilidade numa área que até era das mais moderadas do Médio Oriente, ao contrário de países como o Líbano ou Israel. Os radicais islâmicos ganham força ideológica junto daqueles que, em Teerão, há poucos anos atrás lutavam por um regime mais democrático. E surge como natural que um país como o Irão reforce a sua posição geoestratégica e militar de modo a evitar a queda do regime, por quaisquer meios possíveis. E esse meio foi a criação de energia nuclear. Um escolha óbvia visto ao tratamento menos hostil que a administração Bush tem com forças nucleares na região, como o Paquistão, outro regime pária que goza do apoio diplomático dos Estados Unidos. Ou até mesmo a Coreia do Norte, um país que já testou armas nucleares e que tem gozado de impunidade da comunidade internacional, apesar dos constantes atropelos aos direitos humanos.

A ameaça militar avançada por George W. Bush só serviu para assistirmos a uma repetição dum filme que já vimos há 3 anos. O Irão levanta o tom das ameaças e arregimenta a população, a Europa e as Nações Unidas fraquejam na busca de uma sempre boicotada solução diplomática e os Estados Unidos fazem prevalecer a sua vontade sobre um dos maiores produtores de energia do mundo inteiro. Tudo isto, numa altura em que o preço do barril de petróleo está perto dos 70 dólares e a recessão económica afecta todos a nível mundial.