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18 janeiro 2010 

A noite

No final de contas, o que te trama é o desejo. É ele que desfaz todos
os planos que cautelosamente planeaste. Aparece pela noite e sobe
pelos teus ossos. Aperta o teu peito e sustém a respiração. Arrepia-te
a pele e mantém-te de olhos abertos. A ver algo que não está lá.

De repente, é tudo o que tu és. É tudo o que tu pensas. Mantém-te
preso em casa, enquanto o mundo corre lá fora. Cria-te imagens,
preenche os sonhos que consegues ter.

Tem um cheiro, esse desejo. Cheira ao mar. E a transpiração. Cheira à
tua boca. Cria uma forma no ar do teu quarto. Que moldaste com a ponta
dos dedos. Que abraçaste e não quiseste largar. Era um ouvido onde
suspiraste. Onde prometeste tudo o que não podias cumprir.

É doce e é amargo. Foge de dia, mas regressa com a Lua. É um produto
da tua imaginação e a realidade mais palpável que conheces. E volta,
com o fim da luz. Para te quebrar o coração. Uma vez mais.

No final de contas é o que te trama. Este desejo. O que te desfez
todos aqueles planos. Sei que o conheces. Tão bem quanto eu.

Senão não estarias acordada. Mais uma vez. Cobrindo o peito com os
lençóis. Olhando para o vazio. A ver algo que não está lá.