O princípio do fim?
Num relatório particularmente demolidor, o Provedor do Ouvinte faz duras críticas à Antena 3. Segundo José Nuno Martins, a estação jovem da rádio do Estado não está a cumprir com o papel de serviço público, e está mesmo a fazer concorrência com outras estações musicais do género. Poderia, portanto, ser uma rádio privada. Segundo o Provedor, dificilmente se manterá a concessão nacional da 3 neste formato. Ou seja, este pode ser o princípio do fim da estação. Aliás, o que se coaduna com a estratégia deste Governo de corte de despesas sem ver a quem ou porquê.
Confesso que, como ouvinte da Antena 3 e admirador de José Nuno Martins e do passado que teve em rádio, só posso discordar deste parecer. O Provedor esquece que, neste país, só existem outras duas rádios musicais a nível nacional. A Rádio Comercial e a RFM. E nenhuma das playlists destas duas rádios se assemelha à divulgação feita pela Antena 3 em termos de música portuguesa ou música fora dos tops. É para mim inconcebível imaginar que programas de qualidade como o Indigente ou o Coiote não sejam considerados serviço público. A própria Prova Oral, do inimitável Capitão Alvim, leva a uma reflexão (pouco séria, mas alguma) sobre assuntos de inegável interesse. Isto para não falar dos concertos em directo. Ainda me lembro da monumental transmissão do concerto de Arcade Fire.
Se é verdade que em Lisboa existem boas alternativas à Antena 3, como é o caso da excelente Radar FM, fora da capital o cenário é outro. Dificilmente imagino este tipo de música a passar em rádios locais do Algarve. Para mim, que lá vivi durante vinte anos, a Antena 3 foi serviço público. E senhor Provedor, música é cultura.
Decerto que há grupos de comunicação privados interessados em ter uma rádio nacional. E dispostos a pagar aos cofres do Estado uma boa quantia. Mas que a rádio portuguesa ia ficar ainda mais pobre e os ouvintes menos bem servidos, não tenho muitas dúvidas.