Ela acende o cigarro.
A chama dança e ilumina
No olhar a tristeza de não seres tu
Quando lhe pergunto
Porque é que nenhuma pele
é igual à tua pele
Porque são as tuas palavras
que decoram as paredes da minha memória
Porque é a tua boca
que puxa a minha respiração
Porque o mar, que é infinito,
me recorda sempre de ti.
Segundo a estatística este é o dia mais deprimente do ano. Aqui fica a minha homenagem:
No final de contas, o que te trama é o desejo. É ele que desfaz todos
os planos que cautelosamente planeaste. Aparece pela noite e sobe
pelos teus ossos. Aperta o teu peito e sustém a respiração. Arrepia-te
a pele e mantém-te de olhos abertos. A ver algo que não está lá.
De repente, é tudo o que tu és. É tudo o que tu pensas. Mantém-te
preso em casa, enquanto o mundo corre lá fora. Cria-te imagens,
preenche os sonhos que consegues ter.
Tem um cheiro, esse desejo. Cheira ao mar. E a transpiração. Cheira à
tua boca. Cria uma forma no ar do teu quarto. Que moldaste com a ponta
dos dedos. Que abraçaste e não quiseste largar. Era um ouvido onde
suspiraste. Onde prometeste tudo o que não podias cumprir.
É doce e é amargo. Foge de dia, mas regressa com a Lua. É um produto
da tua imaginação e a realidade mais palpável que conheces. E volta,
com o fim da luz. Para te quebrar o coração. Uma vez mais.
No final de contas é o que te trama. Este desejo. O que te desfez
todos aqueles planos. Sei que o conheces. Tão bem quanto eu.
Senão não estarias acordada. Mais uma vez. Cobrindo o peito com os
lençóis. Olhando para o vazio. A ver algo que não está lá.
Diz-me o porquê dessa canção tão triste
Que me diz não vir de ninguém
Decerto alguma coisa tu pediste
A essa voz que tu não sabes de onde vem
Diz-me o porquê dessa canção tão triste
Me fazer sentir tão bem
Decerto alguma coisa mais te disse
A mesma voz que não dizes a ninguém
Eu sei que tudo ser em vão é triste
Como é triste um homem morrer
Pergunta à voz se essa canção existe
E se ela não saber ninguém mais vai saber
Diz-me o porquê dessa canção tão triste
te fazer sentir tão bem
Decerto eu oiço a voz que tu ouviste
Talvez tu saibas de onde vem
Não é novidade, mas aquilo que todos sabemos fica aqui concretizado em números:
"Numa década, o fosso entre o rendimento das famílias mais pobres e mais ricas duplicou. Em 2006, segundo dados divulgados ontem pelo INE, o rendimento médio anual dos agregados familiares 10% mais pobres foi de cerca 6.650 euros.
Um valor 8,9 vezes inferior aos 59.282 euros que, por ano, foram ganhos pelos agregados incluídos na fatia das 10% mais ricas. Há dez anos a diferença era de apenas 4,6 vezes, ou seja, quase metade.
Portugal está hoje mais rico e mais competitivo do que há dez anos, mas está também mais desigual, uma tendência que se agravou e que quebrou a aproximação registada durante os anos 80. "
Fonte: Jornal de Negócios
É curioso que esta notícia saia no mesmo dia em que se sabe que a banca pagou menos 30% de impostos no ano passado que em 2006. Isto apesar do aumento de lucros de 9%.
É só um exemplo das injustiças. A (péssima) distribuição da riqueza continua a ser o maior problema do mundo. E Portugal continua a mostrar esta tendência para o aumento da desigualdade. Este é o resultado da sociedade de consumo. De não saber até quanto realmente se precisa. Do ter só pelo ter. E até haver uma mudança histórica, só me parece que este fosso vai continuar a aumentar. E com ele a escravatura do ordenado baixo, da precariedade e do endividamento crónico.